top of page

A História dos Vasos de Pressão

  • Foto do escritor: Fabio Roberto
    Fabio Roberto
  • 11 de nov. de 2024
  • 7 min de leitura

A História dos Vasos de Pressão e a Criação da Norma ASME


Os vasos de pressão são componentes essenciais para a operação de diversas indústrias modernas, sendo projetados para conter fluidos sob pressões internas ou externas que variam significativamente da pressão atmosférica. Esses equipamentos permitem que processos industriais sejam conduzidos em condições seguras, mesmo em ambientes extremos de alta pressão e temperatura. A trajetória de desenvolvimento dos vasos de pressão e a criação de normas que regulamentam sua construção e operação está repleta de marcos históricos, inovações tecnológicas e lições aprendidas a partir de incidentes trágicos. Este artigo detalha a origem desses equipamentos, as aplicações históricas e modernas, e a criação do Código ASME, que se tornou o padrão internacional de segurança e eficiência.


Primeiros Avanços: Do Vapor à Revolução Industrial

O uso de recipientes pressurizados começou no século XVII, quando o cientista francês Denis Papin inventou a caldeira a vapor em 1679. Papin projetou um protótipo de vaso de pressão conhecido como “digeridor” ou “panela de Papin”, que era utilizado para cozinhar alimentos a uma temperatura mais elevada, aproveitando a pressão do vapor para otimizar o processo. Embora rudimentar, essa invenção representou o primeiro passo no desenvolvimento da tecnologia de recipientes pressurizados, e a panela de Papin ainda é considerada uma precursora das panelas de pressão modernas (Timoshenko, 1953).

A Revolução Industrial, entre os séculos XVIII e XIX, trouxe uma expansão massiva no uso de caldeiras a vapor e vasos de pressão, que passaram a ser essenciais para o funcionamento das locomotivas, fábricas e indústrias em geral. O ferro fundido era o material predominante nas caldeiras da época, mas sua fragilidade e baixa resistência a altas pressões frequentemente resultavam em explosões, algumas delas com consequências trágicas. A falta de padronização e de conhecimento técnico na construção desses equipamentos resultava em um alto índice de falhas (Ross, 2006).


ree


Explosões e Incidentes: A Necessidade de Normatização

A explosão de caldeiras era um problema frequente durante a Revolução Industrial. Nos Estados Unidos, um dos incidentes mais trágicos foi a explosão do barco a vapor Sultana, em 1865, no Rio Mississippi. Essa explosão resultou na morte de mais de 1.800 pessoas, sendo considerada uma das maiores catástrofes marítimas da história americana. A causa foi o superaquecimento das caldeiras, que, devido à construção inadequada, não suportaram a pressão acumulada. O acidente evidenciou a necessidade de regulamentações e padrões de segurança mais rigorosos para caldeiras e vasos de pressão (Fry, 2015).

ree
SS Sultana em Helena, Arkansas, em 26 de abril de 1865, um dia antes de sua destruição. Uma multidão de prisioneiros em liberdade condicional cobre seu convés.


Outro caso significativo foi a explosão da fábrica de sapatos Grover em Brockton, Massachusetts, em 10 de março de 1905. Esse acidente resultou na morte de 58 pessoas e deixou 117 feridas. A causa foi atribuída à falha estrutural da caldeira, que não suportou a pressão interna. A magnitude da tragédia foi um chamado de atenção para a sociedade, acelerando a discussão sobre a necessidade de normas regulamentares de segurança (Anderson, 1984).


ree

Fundação da ASME: A Busca pela Segurança Industrial

A American Society of Mechanical Engineers (ASME) foi fundada em 1880 com o objetivo de promover o desenvolvimento da engenharia mecânica e estabelecer padrões de segurança para reduzir o risco de explosões de caldeiras e vasos de pressão. Em 1911, a ASME formou o Comitê de Código de Caldeiras, que começou a trabalhar na criação do primeiro conjunto de normas para a construção de caldeiras e vasos de pressão.

Em 1915, o comitê lançou a primeira edição do ASME Boiler and Pressure Vessel Code (BPVC), que representou um marco importante na engenharia de segurança. Essa edição inicial oferecia diretrizes sobre projeto, fabricação e inspeção de caldeiras a vapor utilizadas em indústrias e em outras aplicações de grande porte. O código estabelecia requisitos mínimos para materiais, técnicas de construção e métodos de teste, o que trouxe uma nova era de padronização e segurança na indústria (McGuire, 2011).


Expansão e Revisões do Código ASME: Inovações e Adoção Global

Desde sua primeira publicação, o BPVC passou por revisões e atualizações regulares para incorporar avanços tecnológicos e responder a novos desafios de segurança. Nos anos 1920, o código expandiu-se para incluir requisitos específicos para caldeiras de locomotivas e navios, além de introduzir diretrizes para métodos de teste mais seguros, como a inspeção radiográfica e ultrassônica, que permitiram a detecção de defeitos internos invisíveis, aumentando a confiabilidade e segurança dos vasos de pressão (Burgess, 1995).

A adoção do código ASME se expandiu rapidamente para além dos Estados Unidos, e muitos países começaram a usá-lo como referência. Hoje, o BPVC é amplamente reconhecido como o padrão internacional para a construção e operação de vasos de pressão, sendo utilizado como base para regulamentações locais em dezenas de países (Ross, 2006).


Evolução dos Materiais e Avanços Tecnológicos

A construção dos primeiros vasos de pressão utilizava principalmente ferro fundido, material que apresentava limitações significativas devido à sua fragilidade em altas pressões. Durante o início do século XX, o aço começou a ser adotado devido à sua resistência superior e à sua capacidade de suportar altas pressões sem falhas bruscas. A introdução de ligas especiais de aço, como o aço inoxidável e ligas de níquel, trouxe melhorias em termos de resistência à corrosão e durabilidade, especialmente em ambientes industriais agressivos, como os encontrados na indústria petroquímica e em plantas químicas (Timoshenko, 1953).

Com o avanço da soldagem como método de junção de componentes, a integridade estrutural dos vasos de pressão melhorou drasticamente. As soldas permitiram a construção de vasos mais robustos e eliminaram a necessidade das juntas rebitadas, que apresentavam maior propensão a vazamentos. Além disso, os ensaios não destrutivos (END), como a inspeção por ultrassom e a radiografia, foram incorporados ao processo de fabricação para garantir a qualidade dos materiais e a ausência de defeitos críticos (Anderson, 1984).


Aplicações Modernas e Importância dos Vasos de Pressão

Hoje, os vasos de pressão são amplamente empregados em uma série de indústrias e para diversas finalidades. Cada aplicação apresenta desafios únicos, e os avanços em materiais e processos de fabricação continuam a ser essenciais para atender às crescentes demandas industriais:

  • Indústria de Petróleo e Gás: Usados em separadores de óleo e gás e em reatores de hidrocraqueamento, que operam sob altas pressões para processar hidrocarbonetos pesados e transformá-los em frações mais leves e valiosas.

  • Indústria Química: Emprega reatores e trocadores de calor, nos quais reações químicas ocorrem em ambientes pressurizados para aumentar a eficiência e a segurança do processo.

  • Geração de Energia: Em plantas de energia, caldeiras de geração de vapor movem turbinas para produzir eletricidade, enquanto vasos de contenção em usinas nucleares protegem o ambiente e a população em caso de falhas.

  • Setor Aeroespacial: Tanques de propelente e sistemas de controle térmico em aeronaves e satélites usam vasos de pressão para armazenar combustíveis e regular temperaturas em missões espaciais.


A história dos vasos de pressão é marcada por uma série de incidentes trágicos que catalisaram a criação de normas de segurança. O desenvolvimento do Código ASME e suas revisões contínuas ao longo dos anos demonstram a importância de estabelecer padrões internacionais que promovam a segurança e eficiência. Graças ao BPVC e à constante evolução tecnológica, a construção e operação de vasos de pressão tornaram-se significativamente mais seguras, salvando vidas e melhorando a produtividade industrial em escala global.


História da Aberko e o Compromisso com a Segurança no Brasil


A história da Aberko começou em 1943, com a fundação da empresa ABERKO – Resfriadores e Filtros de Ar Ltda., sob a marca Aberko. Desde então, a Aberko se consolidou no mercado como sinônimo de qualidade em equipamentos para ar comprimido, construindo uma sólida reputação em fornecer produtos confiáveis e duradouros. Ao longo das décadas, a Aberko evoluiu, adquirindo novas tecnologias e experiência, o que permitiu a expansão de suas operações e de sua linha de produtos.

Em 1988, sob a liderança do economista Alicério Roberto, a empresa deu um importante passo em sua história ao fundar a ABERKO EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA. Esse marco ampliou o escopo de atuação da Aberko para incluir o projeto, desenvolvimento e fabricação de bens de capital sob encomenda, especialmente no segmento de vasos de pressão e equipamentos industriais, como reservatórios para ar comprimido, tanques de armazenamento, separadores de condensado e trocadores de calor. Esse passo não apenas diversificou a oferta da Aberko, mas também reforçou o compromisso da empresa com o mercado brasileiro, ao oferecer produtos seguros e de alta qualidade.


ree

Os filhos de Alicério Roberto, que já trabalhavam na Aberko desde 1995, assumiram a direção da empresa após o falecimento do pai, honrando o legado do fundador. Sob a liderança dos sucessores, a Aberko não só manteve o padrão de qualidade estabelecido, como também investiu na modernização de suas instalações, na aquisição de novas tecnologias e no treinamento contínuo dos colaboradores.


ree

Em 2021, consolidando sua identidade e propósito, a Aberko assumiu o nome de Aberko Vasos de Pressão. Afinal, uma empresa que vive e respira vasos de pressão deveria ter "vasos de pressão" até no nome. Com essa mudança, a Aberko reforçou sua posição no mercado e se consolidou como uma das maiores e mais respeitadas empresas de vasos de pressão do Brasil.


Hoje, a Aberko é uma referência no mercado nacional de vasos de pressão. Atuando em conformidade com as rigorosas normas da ASME, a Aberko Vasos de Pressão fornece equipamentos projetados para assegurar a máxima segurança e confiabilidade operacional. Esse compromisso com a segurança reflete a missão da empresa de contribuir para a redução de acidentes industriais, estabelecendo padrões de qualidade que protegem vidas e garantem operações industriais mais seguras e eficientes no Brasil. A Aberko orgulha-se de sua trajetória e continua comprometida em ser um sinônimo de confiança e qualidade no mercado brasileiro.



ree



Referências Bibliográficas

  • Anderson, J. (1984). Boiler Explosion Analysis. New York: McGraw-Hill.

  • Burgess, E. (1995). Pressure Vessel Design Manual. Houston: Gulf Publishing.

  • Fry, R. (2015). Sultana: Surviving the Civil War, Prison, and the Worst Maritime Disaster in American History. New York: Taylor Trade Publishing.

  • McGuire, D. (2011). The ASME Code: A Historical Perspective. ASME Press.

  • Ross, T. (2006). Industrial Catastrophes: Lessons Learned. Chicago: University of Chicago Press.

  • Timoshenko, S. (1953). History of Strength of Materials. New York: Dover Publications.

 
 
 

Comentários


bottom of page